Toque de azul nos vidros frios
Anuncia a manhã desabrochada.
É lindo, o azul dos rios!
A água é pura. A vida é dada.
Levantarmos o corpo como um copo
Que leva sangue aos lábios de tal dia!
Entorná-lo no monte, sem que ao topo
Nos surja a Morte (que o bebia!)...
Como tudo isso é veio
No vidro da janela amanhecido!
Mas vem a tarde, e o medo veio;
Chegou a noite, e o osso é moído.
Agora, só mesmo um dedo
Ou beijo ou bálsamo se deve,
Por trás do vidro, amanhã cedo,
À chaga e à tinta que a descreve.
Vitorino Nemésio
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