sábado, 5 de setembro de 2009


Tu que me deste o teu carinho

E que me deste o teu cuidado,

Acolhe ao peito, como o ninho

Acolhe o pássaro cansado,

O meu desejo incontentado.

Há longos anos ele arqueja

Em aflitiva escuridão,

Sê compassiva e benfazeja.

Dá-lhe o melhor que ele deseja:

– Teu grave e meigo coração.

Sê compassiva. Se algum dia

Te vier do pobre agravo e mágoa,

Atende à sua dor sombria:

Perdoa o mal que desvaria

E traz os olhos rasos de água.

Não te retires ofendida.

Pensa que nesse grito vem

O mal de toda a minha vida:

Ternura inquieta e malferida

Que, antes, não dei nunca a ninguém.

E foi melhor nunca a ter dado:

Em te pungindo algum espinho,

Cinge-a ao teu seio angustiado.

E sentirás o meu carinho.

E sentirás o meu cuidado.


Manuel Bandeira

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