quinta-feira, 1 de abril de 2010



É já quase manhã. No tribunal,
o Rabi, sério e grave, entre os maus tratos,
plácido, está de pé ante Pilatos, 

tendo cingida a púrpura real.


Puseram-lhe um caniço em vez de ceptro;
de espinhos um diadema, as sentinelas.
Todo em sangue, o Rabi é um espectro.
Mas a sua alma viaja nas estrelas.



Rugem fora Anciãos e Fariseus. 
Mas não entram, que é sórdido e profano,
na Páscoa, entrar num tribunal romano.
- Proíbem-lho Moisés, Abraão e Deus.



Lá em baixo, a Ralé e os Anciãos,
para quem o Rabi foi como um raio
e um génio de Revolta, erguendo as mãos,

ululam ao Pretor: - Crucificai-o!


Pilatos diz ao Mestre: - «És tu que ouvi
chamar às multidões rei dos Judeus?»
- «Tu o dizes, torna, plácido, o Rabi.
Mas o meu reino é nos calados Céus!



«Não reino sobre o lodo transitório!
A verdade é dos Céus intemeratos.»
- «Mas o que é a verdade?» diz Pilatos.
Dizendo tal, sai fora do Pretório.



Lá em baixo, a Ralé, os Anciãos,
para quem o Rabi foi como um raio
e um génio de Revolta, erguendo as mãos,
ululam ao Pretor: - Crucificai-o!



Então o Pretor diz: «Concedo a vida,
Israel! a teu rei, teu soberano!»
- «É só rei, brada a Plebe enfurecida,
César Tibério, imperador romano!»



O Pretor mostra à Plebe, ensanguentado,
o Rabi - dos espinhos que o consomem -
e mostrando-o assim, trágico e açoutado,
ante o povo judeu, grita: Eis o homem!



- «Herodes não lhe achou nenhum delito
- torna o Pretor. - Portanto, se te apraz,
soltá-lo-ei na Páscoa, como é rito.»
- Mas a Plebe clamou: «Não! Barrabás!»



- «Barrabás é um lívido homicida
sedicioso, bulhento, malfeitor.
Este é o vosso Rabi! e leva a vida,
meditando em seus Céus» - volve o Pretor.



Mas, de novo, a Ralé e os Anciãos,
para quem o Rabi foi como um raio
e um génio de Revolta, erguendo as mãos,
ululam ao Pretor: - Crucificai-o!



«Dai-lhe por manto o sangue em borbotões!
Como soldados, os bastões e os paus!
Por archeiros, mandai-lhe dois ladrões!
E, por trono, o Calvário e os seus degraus!»



Então, de fronte calma e sossegada,
no meio da ansiedade e do clamor,
numa taça real, de ouro, lavrada,
- lava as mãos, ante o Público, o Pretor.


Gomes Leal

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