na boca fechada. Sempre te quis dizer
o que no teu calar não dizes.
Apenas repetes: homem de pouca fé.
Apenas corrijo: homem que precisa
de fé reavivada. Fogo e vento
enlaçam-se nas ardências mudas
enquanto sorvo o mel que o teu alastrado corpo
derrama. Homem de pouca fé. Terás razão.
Mas agora, finalmente, ouso-me
no âmago lento e na espessura do equívoco
corto veias rubras pulsando no bafo
que paralisa o suor da folhagem.
Foi tanta, tanta, a ousadia
deste homem de pouca fé.
Foi tanto, tanto o mistério devassado.
Foi um rio cheio, com precipícios, sedes, tumultos.
Foi tudo: o vendaval e as lágrimas
de um homem de pouca fé.
E agora, longe, longe,
nada é.
Fernando Namora
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